Uma das soluções em cima da mesa no Ministério da Defesa é mandar vir de Lisboa, para uma busca e salvamento, um comandante a bordo do Falcon. Isto se o aparelho não estiver, claro, a transportar órgãos. Enquanto isso, podem perder-se vidas.
A saída de pilotos comandantes da Força Aérea Portuguesa pode deixar sem comandante de helicóptero o Destacamento Aéreo da Madeira.
Cada vez mais, desde que os cortes nos salários se fizeram sentir por força das exigências da Troika, o lote de comandantes, especialmente da Esquadra 751, está a ficar mais pequeno.
O Chefe do Estado Maior da Força Aérea tem vindo a repetir que a situação está a chegar aos limites e este fim de semana avisou mesmo que esse limite está cada vez mais próximo.
José Pinheiro não tem tido soluções para contornar a saída de pilotos e, particularmente na “751”, de onde saíram 5 pilotos-comandantes nos últimos meses, a saída vai ser difícil de encontrar, até porque, por força dos cortes, a Força Aérea não tem horas suficientes para os 15 co-pilotos voarem o suficiente para se qualificarem como comandantes.
O cenário é de tal ordem negro que cada um dos comandantes dos “Pumas” está a voar um quarto do que deveria. Como não há dinheiro para treinos, porque o EH101 “Merlin” só dispõe de 1750 horas para operar, os pilotos têm de dividir essas horas entre si, cabendo, em média, 116 horas por ano a cada um para voar. A qualificação nunca é inferior a 400/500 horas, o que significa que para um co-piloto estar em condições de ser promovido terá de esperar, na melhor das hipóteses, quatro anos e, por outro lado, ter quem lhe dê formação.
A Força Aérea não tem condições de esperar esse tempo, quando uma lei permite que os militares saiam ao fim de doze anos de vínculo para o mercado que lhes paga bem mais do que o que o Estado lhes dá para os manter nos quadros.
Há comandantes a receber 1500 euros limpos por mês, recebendo 4 euros por dia para estar quinze dias destacado no Porto Santo ou nos Açores, um total de 60 euros por cada destacamento. A juntar a isso, também sem retribuição, há os alertas na Base Aérea do Montijo, em média 3 por mês, pelos quais não recebem nada.
Vir de Falcon
ou “fugir” do país
Os cortes dos salários são de tal ordem que os pilotos obrigam-se a procurar alternativas.
No caso da Esquadra 751, o caso torna-se pior do que os da Esquadra 502, que opera os aviões C295M. É que os pilotos dos helicópteros não têm apenas mercado nesses aparelhos, têm também a opção “Médio Oriente” cada vez mais como uma solução.
Há casos de comandantes que sairam para ganhar, no Irão, 7.500 euros mensais, trabalhando 28 dias e descansando os 28 seguintes. É duro, dizem, mas recebem cinco vezes mais do que se estiverem numas Forças Armadas cada vez menos atractivas.
A situação não é recente. Sempre sairam pilotos para a aviação comercial, mas agora não há suficiente orçamento para pôr os que ficam a voar o mínimo. Os cortes, sem olhar a prioridades, atiram para a frente uma solução que urge ser tomada com medidas que não passem pelo prolongamento do tempo de permanência nos quadros, porque os pilotos podem sempre pagar para sair antes desse prazo.
Daqui a uns dias, pode o Porto Santo ficar sem comandante. Há quatro anos, a ilha ficou todo o Verão sem o helicóptero e toda a tripulação, por causa da saída de pilotos. Um dos cenários que pode vir a ser seguido passa por manter o comandante no Montijo e, em caso de emergência, transportá-lo de “Falcon” para o Porto Santo, mas a medida, quando se trata de salvar vidas, torna-se impraticável e quanto a custos, é exorbitante. Isto, claro, se o Falcon não estiver a transportar órgãos ou os membros da Presidência da República ou do Governo.
Por enquanto, a Força Aérea só precisa de mais verbas para pôr os pilotos a voar mais tempo. Enquanto os pilotos dos helicópteros da Marinha começam a seguir os mesmos rumos e procuram outros voos.
Os Açores ficaram agora sem os dois comandantes. Há um para duas tripulaçõs, o que pode ser impraticável. A Madeira pode ficar a seguir sem o seu.
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